domingo, 6 de outubro de 2013

Amar-te até a morte

Eu já vi o mundo desabar tantas vezes que, às vezes, parece que o mundo foi feito mesmo para gente se desfazer. Ainda não havia aquela vontade vital de ser imortal porque a morte naquele momento parecia um confronto distante entre o que eu sinto agora – nesse instante – e o que você sente quando quer reviver o que já fomos antes.

(sem ressentimentos)

Mas o amor também morre, meu amor; e a morte também ama, minha morte. E é no elo desse duelo desesperado que a gente decide se quer continuar fraco no amor ou se entregar forte até a morte.

Tanto faz!
Amar ou morrer é um pouco igual. É poder ser sincero e aceitar que nunca seremos para sempre.

Tanto jaz!
Morrer ou amar tem um quê de banal. É querer ser inteiro e se despedaçar meio a meio como nunca.

Eu sei, é difícil, nunca foi fácil discernir o que é de verdade do que é de sentir…

É que eu já vi a morte desabar tantas vezes que, às vezes, amar não me parece tão ruim assim. É que eu já vi o amor desabar tantas vezes que, às vezes, morrer não me padece tão ruim assim.

Acredito ter visto, no meio de tantos escombros, meus ombros, seus olhos, meus poemas, suas coxas, meus problemas, seus cílios, nossos filhos (que filhos?), nossas contas, nossos contos e os ossos, teimosos!, das nossas alegrias. Ouça: a dobra do seu sorriso ainda me ri: “desdobre-se, meu amor, desdobre-se na morte para me reconstruir longe daqui, perto de ti, em mim”.

[amar-te até a morte; antônio]