sexta-feira, 27 de março de 2009

Você está perto dos 30 anos e se deparou consigo sentada no sofá pensativa, refletindo sobre questões como "o que eu estou fazendo da minha vida?" ou "preciso arrumar um marido, mas como?". Algumas vezes também precisa ouvir os outros perguntarem "por que ainda não arrumou um emprego estável?" ou "você não vai ter filhos?". Não fique nervosa, saiba que é uma situação normal para essa faixa etária e que você não é pior do que ninguém. Não que todas as mulheres passem por isso, mas muitas chegam a essa idade e têm um comportamento auto-avaliativo que pode levar à depressão - às vezes o julgamento sequer vem de você, e sim da família e amigos. É a chamada "crise dos 30 anos".

O escritor Honoré de Balzac imortalizou a figura da mulher de 30 anos com crises na vida afetiva em seu livro A mulher de 30 anos, dando origem à expressão "mulher balzaquiana" para as mulheres nessa faixa de idade que estão em conflito emocional. A psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari explica que, a princípio, a crise dos 30 anos não se trata de uma doença. "É um sentimento que está relacionado a uma questão cultural, que pressupõe que a essa idade a mulher já está encaminhada na vida: já construiu uma carreira e está casada ou prestes a se casar. Então ela se sente pressionada a atender a essas expectativas."

Algumas mulheres são solteiras por escolha própria, porque decidiram priorizar a profissão, por exemplo. No entanto, elas também não escapam do rótulo de "encalhadas", o que gera um conflito emocional. "Ao mesmo tempo em que ela quer ser uma 'grande mulher', uma profissional bem sucedida, a sociedade faz com que ela queira ser a dona-de-casa que cuida do marido e dos filhos", avalia a psicóloga Beth Valentim. "E mesmo na questão da gravidez, dependendo da pessoa é possível ter filhos mais tarde, aos 40 anos, com acompanhamento médico", lembra Beth.

Olga adverte sobre os problemas que esses sentimentos podem acarretar. "Essa cobrança eleva a ansiedade, o que pode levar a problemas de memória, de concentração, e ela fica irritadiça", diz. O comportamento pode levar à depressão, necessitando de ajuda profissional.

Além disso, em casos mais graves, a ansiedade leva à bulimia, anorexia ou à obesidade. O TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) também tem a ver com esse vazio que a mulher sente, o que pode levá-la a adquirir manias.

Cobranças
A crise dos 30 anos pode ter relação com diversos aspectos da vida cotidiana, desde a vida familiar e profissional até a sua sexualidade.

Casamento
Talvez a principal causa da crise, para a maioria das mulheres, seja quando a mulher acredita que só será completa se tiver um homem ao seu lado. Outro agravante é quando os amigos começam a casar e a mulher solteira se sente sozinha porque perde as companheiras de balada, ou então porque não pode mais visitar os amigos casados a qualquer hora, por medo de ser inconveniente.

"Algumas pacientes me dizem que precisam se casar porque os amigos casaram, e ela se sente deslocada", conta Olga. "O perigo é que elas acabam se casando com o primeiro que aparece, e isso trará ainda mais sofrimento para elas depois", adverte.

Outro problema é a mulher abrir mão de sua vida para viver em função do amor. Alguns namorados reclamam que elas trabalham demais e não têm tempo para eles. Se ela largar tudo para dedicar-se à relação, geralmente é na faixa dos 30 anos que sentirá falta de tudo o que deixou de fazer e do que não construiu - especialmente se o namoro ou casamento terminar.

Para Mariana*, 30 anos, está cada vez mais difícil encontrar um homem para casar porque a sua exigência aumenta com a idade. "Agora estamos mais voltadas para formar uma família, queremos algo mais sério", conta. "Eu sei que é preconceito meu também, de achar que estou velha apesar de não parecer ter 30 anos. Mas as pessoas olham feio quando a gente sai à noite nos bares, acham que somos 'garotas de boate' porque temos 30 anos e estamos solteiras", desabafa.

Filhos
Muitas vezes, uma conseqüência de não casar é a mulher chegar aos 30 anos sem filhos - a não ser que seja mãe solteira, o que também pode gerar preconceito. O relógio biológico indica que ela não pode demorar muito, porque seu potencial reprodutivo diminui após a terceira década de vida, com o envelhecimento e diminuição da quantidade de óvulos. Sem contar as doenças ginecológicas e o risco de aborto espontâneo, que aumentam com a idade.

Para Beth Valentim, a maternidade pode ser uma escolha entre o lar ou a profissão. "Com esse ritmo de trabalho, se você for bem-sucedida não tem tempo de ser mãe.", explica.

É preciso ter cuidado porque é comum as mulheres terem filhos apenas para segurar o namorado ou obrigá-lo a casar. "Isso não resolve o assunto. São poucas as relações que sobrevivem depois de um filho inesperado", analisa Olga.

Beleza
E o espelho? Antes um aliado para te deixar irresistível, agora parece que ele joga contra você e mostra como envelheceu, como está mais gorda, com mais olheiras e com aquele ar de cansada. Mesmo que ainda seja uma idade jovem, a sua aparência passa longe do frescor dos seus vinte anos.

No caso da agente de turismo Claudia Uilza, 35 anos, o estopim para a crise dos 30 anos foi sua aparência. "Me sentia feia, gorda, não queria sair de casa. Só usava roupas largas, 'de velha'", conta. Na época, Claudia, que tem 1,65m, pesava 90 kg. Sem mencionar as dores nos joelhos e nas costas.

Para Beth, a competição entre as mulheres é um fator agravante na falta de auto-estima em relação à beleza, quase uma neurose. "A mulher começa a se achar feia porque se compara com a mulher de 20 anos e começa a se achar velha", explica. "Nossos 30 anos são o auge da nossa beleza. A partir dos 40, as marcas começam a se acentuar, então é preciso cuidar da pele, do cabelo."

Sexualidade
Teoricamente, aos 30 anos a mulher já é bem resolvida no sexo, sabe o que a agrada e sabe transmitir seus desejos ao parceiro. No entanto, uma mulher insegura não consegue se soltar na cama, levando à própria insatisfação. Ou seja, quem está preocupada com a aparência, com o que os outros pensam dela, se vai ter filhos ou casar, pode ter dificuldades de curtir o sexo.

Essa falta de prazer e o pensamento de que homens preferem transar com alguém mais nova podem contribuir para uma crise aos 30 anos.

Conselhos
As profissionais sugerem algumas dicas para quem enfrenta essa fase da vida.

- Ter 30 anos é só um marco social, tanto faz se você tem 30, 32 ou 25. Reflita se essas cobranças são pressões externas ou se o seu desejo é realmente casar e ter filhos.

- Para casar, é preciso escolher bem o homem certo. A convivência será impossível se não houver intimidade e cumplicidade entre você e ele.

- Lembre-se de que os homens também podem ser vítimas de suas crises de choro e inseguranças. Eles, às vezes, até querem casar, mas preferem ter condições financeiras de arcar com as despesas. Não os apresse demais.

- Se o seu sonho é realmente casar e ter filhos, vá atrás mas não viva em função desse objetivo. Assuma sua condição de solteira e conheça gente, saia para a balada. Mas não deixe de sair com seus amigos casados.

- Antes de cogitar ter um filho, pense em como será a sua vida depois disso. É preciso abrir mão de passeios, jantares românticos, noites de sono, sem contar nas despesas. Pondere se você está disposta a encarar essa nova etapa sem precisar depender da ajuda dos outros - talvez não seja hora de ter um filho se ele tiver que ser criado por sua mãe, por exemplo.

A alegria dos 30
Apesar de tantas dúvidas e aflições, há quem goste de chegar aos 30 anos. Beth Valentim destaca algumas vantagens de ser uma balzaquiana:

- Se tiver uma formação adequada, a mulher pode estar em uma posição privilegiada no trabalho, com experiência e até uma especialização no currículo.

- Sua beleza está no auge, porque perdeu o ar de menininha e agora é uma mulher decidida, sabe olhar nos olhos firmemente e não tem medo de encarar a vida de maneira realista.

- Sexualmente ela sabe que o orgasmo é importante e não banaliza mais o sexo. Tem auto-conhecimento de seu corpo e mais maturidade emocional.

- Se for mãe, está em uma idade de muita vitalidade para aproveitar com os filhos, porque ainda é jovem mas já é madura e responsável.

É o caso da técnica ambiental Simone Fukuji, 34 anos, que afirma que sua vida só melhorou depois que passou dos 30 anos. "Antes era retraída, agora gosto de sair, conhecer gente. "Ela teve filho aos 20 e aos 24 anos, e agora que eles estão mais crescidos, pôde voltar a estudar. "Quero mais é ser feliz", alegra-se.

Mesmo Claudia Uilza, que não gostava do seu próprio corpo, depois que decidiu fazer academia sente-se "poderosa". "Faço duas horas de academia por dia, com seis alimentações leves por dia, parei de fumar e de tomar refrigerante. Hoje, diz com orgulho que está com 75 kg e usa saias curtas, calças coladas e decotes.

Já Mariana, apesar da preocupação em casar e ter filhos, confessa que agora aos 30 anos sente-se mais bonita. "Me formei cedo, então aos 28 anos já tinha uma vida mais estável, pude me exercitar, malhar, comprar o que queria com meu próprio dinheiro. Fisicamente estou bem melhor", admite.


* O nome foi alterado à pedido da entrevistada

Serviços:
Olga Inês Tessari, psicóloga e psicoterapeuta
otessari@hotmail.com
http://ajudaemocional.tripod.com

Beth Valentim, psicóloga e autora
btdvalentim@yahoo.com.br
http://bethvalentimcoisademulher.blogspot.com

Redação Terra

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