quinta-feira, 1 de maio de 2014

Pra voce...

Mesmo que eu pisque os olhos na velocidade exata que me indicam as revistas e me revire de cabeça pra baixo pra tentar caber no seu avesso, você não nota. A gente troca duas ou três palavras, eu puxo assunto, tento levar adiante o papo manjado sobre cães só pra falar que eu tenho um labrador grandão e bonito que você adoraria conhecer...
É engraçado isso porque eu me esforço. Me encaixo ali direitinho no que parece ser seu dossiê e ainda aplico umas técnicas elaboradas que aprendi uma vez num programa tailandês que serve pra trazer um amor em menos de três dias. Mais eficiente que mandinga e eu nem preciso aprender a jogar búzios, é tudo na força de pensamento. Fico ali tentando entrar, não sei se você veste P ou M, mas eu consigo ser grande ou pequena o suficiente pra caber no teu tamanho, viu?
E você não é só um, nem dois, três seria demais, mas a conta já passou disso. Você é todo cara que me olhou nos olhos, pediu desculpa, disse que não ia funcionar e me rejeitou. É todo mundo que já embrulhou umas tristezas no pacote e deixou lá no quarto pra eu levantar com a sensação de que o mundo tava desabando e que eu tava fazendo tudo errado outra vez. Ia passar, sempre passa, bola pra frente, conheci alguém, só mais um, mas vai passar também. O que não passa nunca é a culpa que eu prego na sala como se fosse um Picasso pra enfeitar minhas lembranças doloridas.
Tava vendo no Discovery que a memória afetiva (quase) nunca falha. Ela registra tudo: de sabores a odores adocicados, de primeira música ao perfume que usava pra sair à noite, da mania de enxugar as mãos duas vezes ao descaso com que mexia no cabelo. Ela associa ações e situações a pessoas e isso faz com que algumas coisas nos lembrem bem de alguém justamente por termos vivido algo marcante com aquela pessoa. É isso que a gente chama de recordação, geralmente. Nesse sentido – e falo de forma leiga aqui – a lógica seria clara: a gente não guardaria recordação nenhuma de quem nunca passou pela nossa vida. Mas não é assim que acontece, né?
Além de guardar recordações, tirar da geladeira pro microondas e viver de emoção requentada, eu também me alimento de culpa. Por que eu não consegui te fazer ficar, mesmo nos moldes, mesmo no tamanho, mesmo que se você quisesse era só avisar que eu tentava me trocar na loja. Me culpo porque você não me achou interessante, não me achou bonita, talvez eu estivesse um pouco gorda, eu teria que te agradar em mais o quê? A culpa é minha por não ser seu tipo ou por ser e mesmo assim você não me querer, o que é ainda pior. Pior porque só prova que eu fiz algo de errado pra não atender as tuas expectativas, que eu te frustrei no meio do caminho, que eu não segui a receita pra te conquistar direitinho, deveria ter começado na segunda-feira. Culpa minha, óbvio, e bem feito que eu me sinta destruída sempre que você vai embora e, Doutor, e se eu não pudesse fazer nada? Porque tem umas coisas que fogem do nosso controle e talvez essa seja uma delas. Talvez não importasse o quanto eu me dedicasse, o quanto eu quisesse casar com teus gostos, o quanto eu queria que desse aquele match esperto na vida real, porque isso não depende de mim.
Na verdade, pensando melhor, nada depende exclusivamente da gente. A gente pode tentar oferecer pro outro o nosso mundo e torcer pra que ele queira ficar se a gente se encantar pelo dele também. Não tem manual, dieta de segunda-feira, programa tailandês ou mandinga que traga amor. Essas coisas são tão imprevisíveis quanto a conta do meu cartão de crédito no fim do mês. Mas o processo normal é sentir culpa por não ter sido o amor de alguém, por não ter inspirado o amor de alguém, e isso se torna um ciclo de auto-negação tão grande que nem cabe nesse texto. Culpa vai sendo mastigada, embolora no estômago, se torna martírio e quando for ver, a gente tá por aí achando que não é bom o suficiente pra ninguém só porque entendeu tudo errado nessa coisa de paixão, pessoas, expectativas e sentimentos. Amor não é ciência exata que a gente garante de olhos fechados que 2 + 2 = 4, não tem como “caber” em alguém, não tem como seguir todas as regras pra garantir o sucesso da rota. Isso só gera frustração.
Não foi minha culpa, nem culpa do meu corpo, nem culpa da minha personalidade se o menino da quinta série não quis me dar a mão no recreio. Se o carinha mais velho do colegial preferia ruivas e meu cabelo tingido não mudou nada. Se o alemão não gostava muito de sueca e eu só sabia jogar isso. Então, pensando cá com as minhas dores, cheguei à conclusão de que eu não podia fazer nada e não tinha nada a ser feito. Eu não podia mesmo ter feito você me amar. E agora não me parece tão ruim assim ter que conviver com isso.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

É

Antes de qualquer meia palavra trocada, quero deixar claro uma coisa entre nós: eu não confio em você. E se fosse você, também não teria lá toda essa confiança em mim. Em algum momento, com toda certeza, um de nós vai acabar se queimando se mexer com fogo.

Então, depois de tanto quebrar a cara, eu tinha definitivamente resolvido me bastar. Já havia passado da fase de me distribuir por aí, de me aventurar, de deixar meu coração nas mãos de quem só queria brincar com ele. Tinha acabado de tirar todos os curativos, e descoberto um jeito descolado de cobrir as cicatrizes com tatuagens de sorriso.

Chega uma certa altura da vida, amigo, que você acaba se tornando cético demais pra conseguir acreditar nas pessoas. A verdade é que você já fica só esperando aquele momento que as mascaras vão cair, que a merda vai feder, que, sabe, suas lágrimas vão começar a rolar.

Não sei se como eu você também já se sentiu incapaz de amar alguém, depois que um grande amor acabou. É que a gente sempre acha e age como se fosse o primeiro, e o último. Mas, me diga, você também já sentiu vazio, cru, oco, com aquele nó na garganta, como se faltasse uma parte essencial?

Aqueles nós difíceis de desatar. Presos, amarrados, cegos. Aqueles que moram na garganta, nas músicas tristes, nas noites de sábado, domingos e feriados. Aqueles que moram nos filmes românticos e nos potes de sorvete. Aqueles que só saem no choro.

É.

Pior que não conseguir acreditar nas pessoas, é querer acreditar nelas. Porque sempre vai ter um filho da puta que vai acabar fudendo tudo. Aquele que você resolve dar um, dois, todos os votos de confiança. Que vai sorrir um riso intenso pra você, mas lá no fundo, só querer roubar teu coração pra jogar feito bola.

Sinceramente? Acho que sou infantil ou burro demais, porque até hoje não consegui entender o que alguém ganha, fazendo o outro sofrer. Cara, me explica que tipo de humor negro, que sadomasoquismo, que, nossa. Como alguém consegue ser frio ao ponto de lidar com os sentimentos de outra pessoa, fingindo que aquilo é nada, ou simplesmente menosprezando ao ponto de ignorar, passar por cima?

Uma das batalhas mais difíceis que travo todos os dias comigo mesmo, é pra tentar acreditar nas pessoas. Pra acreditar que, sabe, ainda existe alguém que valha a pena. Alguém que queira ficar, que não vá desaparecer do dia pra noite como todas as outras tantas pessoas que já me deixaram.

Amigo, você sabe o peso da tua felicidade? Tu entende que a gente luta todos os dias pra alcançar uma coisa que nem de longe sabe o que é, pra, do nada, como quem não quer nada, vir alguém e acabar com tudo?

Respira.

O tempo que você leva no chão tentando assimilar tudo que aconteceu depois de uma queda, é decisivo pra suas próximas ações depois que você conseguir se levantar. E é sempre quando teu primeiro pé ta firme, e você já está disposto a firmar o outro, que as rasteiras vem.

Todos os dias peço a Deus que ele coloque no meu caminho, pessoas que torçam pela minha felicidade. Porque não adianta estar com alguém que se candidata insistentemente a enxugar tuas lágrimas. É muito melhor ser de alguém que torça inquestionavelmente pelas tuas vitórias.

Depois de toda essa ruma de palavras trocadas, quero deixar claro uma coisa entre nós: eu realmente tento confiar em você. E se fosse você, também não teria lá todo esse medo de confiar em mim. Em algum momento, com toda certeza, um de nós vai acabar se queimando se mexer com fogo. Mas quando se tem um apoio, alguém que suporte a barra contigo, nem as queimaduras doem tanto.

— Matheus Rocha

domingo, 6 de outubro de 2013

Amar-te até a morte

Eu já vi o mundo desabar tantas vezes que, às vezes, parece que o mundo foi feito mesmo para gente se desfazer. Ainda não havia aquela vontade vital de ser imortal porque a morte naquele momento parecia um confronto distante entre o que eu sinto agora – nesse instante – e o que você sente quando quer reviver o que já fomos antes.

(sem ressentimentos)

Mas o amor também morre, meu amor; e a morte também ama, minha morte. E é no elo desse duelo desesperado que a gente decide se quer continuar fraco no amor ou se entregar forte até a morte.

Tanto faz!
Amar ou morrer é um pouco igual. É poder ser sincero e aceitar que nunca seremos para sempre.

Tanto jaz!
Morrer ou amar tem um quê de banal. É querer ser inteiro e se despedaçar meio a meio como nunca.

Eu sei, é difícil, nunca foi fácil discernir o que é de verdade do que é de sentir…

É que eu já vi a morte desabar tantas vezes que, às vezes, amar não me parece tão ruim assim. É que eu já vi o amor desabar tantas vezes que, às vezes, morrer não me padece tão ruim assim.

Acredito ter visto, no meio de tantos escombros, meus ombros, seus olhos, meus poemas, suas coxas, meus problemas, seus cílios, nossos filhos (que filhos?), nossas contas, nossos contos e os ossos, teimosos!, das nossas alegrias. Ouça: a dobra do seu sorriso ainda me ri: “desdobre-se, meu amor, desdobre-se na morte para me reconstruir longe daqui, perto de ti, em mim”.

[amar-te até a morte; antônio]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A despedida

Querido Murilo, essas duas palavras, “querido Murilo”, me levam a uma outra época, quando passavamos horas conversando. Eu contava coisas sobre minha vida e voce me falava coisas sobre a sua vida e íamos descobrindo, tanto de voce em mim e tanto de mim em voce. A verdade não é nada. O que você acredita ser verdade é tudo. E eu acreditava que ficaria com você para sempre. Para sempre. Eu levei tanto tempo para aceitar tudo isso, pra começar a me desligar de verdade de você, percebi que fui uma tola. Passei praticamente dois anos me enganando. Todas as coisas que escrevia pra voce era uma carta de amor. Como poderia ser outra coisa? Agora posso ver que todas, menos esta, eram ruins. Cartas de amor ruins imploram pelo amor. Cartas de amor boas não pedem nada. Esta, tenho o prazer de anunciar, é a minha primeira carta de amor boa para você. Posso lhe dizer que durante esses dois anos voce foi pra mim meu imã e a minha criptonita também, no fundo bem la no fundo eu só queria entender o porque voce fez isso, e fico aqui mergulhada em perguntas que eu mesmo me faço todas as noites antes de cair no sono, e todos os dias de manha quando olho pro espelho e vejo..bom o que eu vejo é aglo muito pessoal para ser exposto dessa maneira, mas são questionamentos, que eu nao sei me responder, e nao espero que voce me responda também. Nao estou lhe escrevendo mais essa para que voce se sensibilize ou se culpe, pela dor que ainda estou sentindo e quem sim parece esmagar cada centimetro do meu corpo, embora minha vida ainda pareca um acidente com varios veiculos em alguma rodovia durante um feriado nacional, eu to tentando retomar as redeas dessa tragedia pessoal e eu quase fico encantada em saber que agora eu posso finalmente viver minha vida de forma plena, e me entregar a algum relacionamento de verdade, sem que exista um fantasma do meu passado, ali a espreita para se tornar real a qualquer momento, e eu tenha que sair correndo porque enfim essa seria a minha hora. Hoje eu olhei nossas fotos e to tomando coragem pra me desfazer de todas elas,nossa sai pessima em cada uma, parecia uma mongol e eu tava bem mais gordinha..mas tem aquela que voce ta dormindo que eu tirei no domingo a tarde, depois de termos almoçado e tirado um soninho, fiquei olhando pra ela e relembrando tantas coisas que nos prometemos naqueles dias, eu choro e tenho vontade de me esbofetear mas repito pra mim mesmo que isso tudo vai passar. Choro pela sensação de situação mal resolvida, por talvez voce nunca ter sido totalmente claro comigo em relação ao que voce nao sentia mais, por ter me alimentado sonhos e expectativas enquanto voce ja tinha seguido sua vida ou melhor voce ja estava dividindo sua vida com uma outra vida, por mais que eu tivesse lhe pedido para voce nao me contar se voce estava ficando com alguem ou nao, acho que seria mais digno sei la que voce tivesse me contato que iria se casar, o fato de ser em tao pouco tempo, de ser uma pessoa que estava "aparentemente" tão recem na sua vida isso tudo confesso me desestruturou. Mas o fato de lhe escrecrer dessa vez é que o que ta feito, ta feito nao ha mais nada que eu possa fazer e não há nada mais para você fazer. Você já fez de tudo. Já tenho memórias suas que durarão para sempre. Por favor, não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem de verdade. Tenho tudo. Se eu tivesse um desejo, seria de que a sua vida desse a você o gosto da alegria que você me deu. Que você sinta o que é amar plenamente, verdadeiramente, de todo o seu coração e de toda a sua alma. Beijos e uma vida inteira de muita felicidade!!!

...em algum lugar do tempo, nós ainda estamos juntos pra sempre ficaremos juntos

* baseado na carta do filme "Esperar Para Sempre"

sexta-feira, 29 de junho de 2012

E você, o quê?

Me dei, me dei... Mudei. E você, o quê? Fiz tudo, te dei o meu mundo. E você o quê? Joguei, lutei, arrisquei, amei! Gostei, um amor maior: impossível. E você o quê? Ultrapassei meu íntimo. Fechei meus olhos, os olhos da alma. Decidi ignorar meus padrões. Ocultei minhas raivas, algumas vezes não deu, disfarcei meus ciúmes, amaciei minhas mágoas. Sua voz me tranqüilizara, teu sexo me domava. Fiz como pude e como não pude. Do seu jeito fui levando, algumas vezes amor próprio me faltou, mas eu só queria seu amor. Por inúmeras vezes te amava mais do que o tudo. E pergunto: E você? O quê? Armei sua lona, fiz seu circo, pintei seu mundo. Fiz de você meu primeiro. Usei suas cores, anulei as minhas. Aceitei suas verdades intactas, anulei as minhas. E você amor? O quê? O quê você fez? Despedacei meu ego, levantei nossa bandeira. Me julguei egoísta, fui contra a seu favor. Chorei, chorei, chorei até faltar vazio em mim. Fui no fundo, no profundo do meu âmago. Pra merecer teus carinhos, teus gemidos, tua língua, teu prazer, teu sorriso, tua atenção, teu apreço.Pra me sentir mulher, me fiz criança. Fiz pirraça, cena, novela. Decorei um texto pra nada dar errado. Abri a mente, fiz preces, fantasiei um mundo. Amei teu corpo, teu jeito, teu cheiro, tua sombra, abri meu peito acreditei na gente. Desconfiei muito, mas confiei demais. E você amor? O quê? Ouviu minha canção? Abriu o peito? Cortou seus cabelos? Trocou de canal? Falou "aquela" frase? Fez planos pra mim? Escolheu um filme pra nós dois? Foi minha companhia para todos os momentos? Foi a um show? Usou "aquela" blusa? Amou-me de verdade? Pensou em mim? No que construímos? No que alcançamos? Tudo um dia tem fim. Tudo na vida tem volta. Tranqüilo você pode ficar, riscos de amar sem ser amado, você não há de correr não. Amor de verdade você não sabe diferenciar. Dizer que vou ser feliz agora? Quem sabe? Dizer que você vai se dar bem? Tomara! Aprendizados são pra vida toda, mas amor unilateral na vida da gente uma só vez é suficiente.

- Tati Bernardi.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando estou mansidão e ternura. Quando estou contemplação e respeito. Quando as palavras fluem, sem esforço algum, sem ensaio algum, articuladas e belas, do lugar em mim onde eu e ele nos encontramos e brincamos de roda. Quando nelas incluo as pessoas que têm nome e aquelas que desconheço existirem. E os meus amores. E os meus desafetos. E os bichos. E as plantas. E os mares. E as estrelas.

Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando o medo me acompanha sem que a coragem se ausente. Quando as coisas seguem o seu rumo sem que eu me preocupe em demasia com o destino desse movimento. Quando eu me sinto conectada com o amor e reverente à vida. Quando as lágrimas nascem apenas de um alegre e comovido sentimento de gratidão. Quando caminho com a rara confiança que só as crianças que ainda não doem costumam experimentar, já que, infelizmente, algumas começam a doer muito cedo.

Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando sou capaz de pressentir o sol mesmo atravessando uma longa noite escura. Quando posso cruzar desertos com a clara convicção de que a vida não é feita somente deles. Quando consigo olhar para todas as experiências, sem que aquelas que me desconcertam me impeçam de valorizar as que me encantam. Quando as tristezas que repentinamente me encontram não atrapalham a certeza da sua impermanência.

Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando amanheço revigorada e anoiteço tranqüila. Quando consigo manter uma relação mais gentil com as lembranças difíceis que, às vezes, ainda me assombram. Quando posso desfrutar do contentamento mesmo sabendo que existem problemas que aguardam eu me entender com eles. Quando não peço nada além de força para prosseguir, por acreditar que, fortalecida, eu posso o que quiser, em Deus.

Mas eu desejo, profundamente, que Deus também ouça as preces que lhe dirijo quando eu não consigo elaborar prece alguma. Quando a dor é tão grande que minha fala não passa de um emaranhado de palavras confusas e desconexas que desenham um troço que nem eu entendo. Quando o medo me paralisa e perturba de tal forma que eu me encolho diante da vida feito um bicho acuado. Quando me enredo nas minhas emoções com tanta confusão que parece que aquele tempo não vai mais passar.

Que Deus ouça também as preces que lhe dirijo quando só consigo chorar e, mesmo depois de já ter chorado muito, tenho a sensação de ainda não ter chorado tudo. Quando me sinto exaurida e me entrego a esse cansaço completamente esquecida dos meus recursos. Há momentos em que a gente parece ignorar tudo o que pode nos ajudar a lidar melhor com os desafios. Há momentos, ainda, em que a gente se confunde sobre o local onde, de verdade, os desafios começam.

Que Deus ouça também as preces que lhe dirijo quando me parece que eu não acredito em mais nada. Quando sou incapaz de ver qualquer coisa além do foco onde coloco a minha dor. Quando não consigo articular meus pensamentos nem entrar em contato com alguma doçura que me faça lembrar das coisas que realmente nos movem. Quando não lhe dirijo nenhuma prece. Nem com palavras. Nem com um sorriso enternecido quando dou de cara com uma flor. Com um pôr-de-sol. Com uma criança. Com uma lua cheia. Com o cheiro do mar. Com o riso bom de um amigo. Que ele me ouça com o seu ouvido amoroso e me acolha no seu coração, porque é exatamente nesses momentos que eu não consigo ouvi-lo em mim.

- Ana Jácomo

terça-feira, 20 de março de 2012

Turbilhao de sentimentos

Acho que é a primeira vez que começo a escrever algo sem nem ao menos ter uma ideia do que exatamente eu quero falar. Preciso desabafar tirar essa coisa de dentro de mim antes que esse sentimento me sufoque, porque eu me sinto assim, sufocada, engasgada, dilacerada e acho que acima de tudo atormentada... me desculpe a quem por ventura venha a ler isso, mas escrever é ainda uma das poucas coisas que me aliviam a alma, o que deixa meu ser mais leve.
Hoje mais uma vez em uma das milhoes de vezes em que eu resolvi abrir a minha boca, ou movimentar meus dedinhos para falar sobre algo que me incomoda, incomoda sim, a quem nao incomodaria?? Qual é o ser humano que suportaria ver o amor da sua vida, ir passar o fim de semana com quem quer que seja que não fosse voce e depois voltasse dizendo que te ama, talvez um robô, ou uma planta, ou um sei la o que, talvez para esses ae citados isso seja normal, mas nao pra mim. Já passei da fase de ter namoros virtuais, ainda mais depois que tudo saiu do virtual, e se tornou parte do meu dia a dia , depois de sentir boca, maos, corpo e tudo, como eu vou levar uma namoro virtual??? simplesmente nao consigo, e espero nao mais conseguir pelo meu proprio bem.
No começo era só a ausencia, a falta do dividir, do falar, de ligar, de ter a pessoa por completo na sua vida, mas havia um tempo que isso bastava, porque nao existia a presença de verdade, mas depois de ter se feito presente, e ter roubado de uma forma totalmente criminal a minha solidão, porque ele deveria ser preso por esse crime, ele veio, levou minha solidão, minha paz e deixou essa saudade, essa vontade louca de ter aquilo que eu nao posso ter, ou até posso... mas enfim esse papo é mais pra frente. Agora eu tenho que lidar com um incomodo que dói na sexta, se torna um imenso vazio no sabado e no domingo é um misto de saudade e revolta, porra ele tava com alguem que nao era eu!!! Como assim seu coração desgraçado, como vc nao vai fazer nada a respeito, tome odio dele, nao queira ve-lo nunca mais, nao palpite como um coração que tem 12 anos de idade, faça isso por mim seu idiota, mas ele nao me escuta, e é horrivel ficar aqui mandando sinais pra esse fanfarrão se ele nem quer saber o que eu tenho a dizer.
Por mais que as vezes a gente nao queira, a vida muitas vezes nos cobra uma atitude, ela nos coloca em uma situação, que ou voce se joga no abismo, acreditando que la embaixo voce vai realizar o seu sonho, ou voce recua e vai atras de novos sonhos. E eu confesso eu to bem confusa, meu pé ta quase escorregando na beira do abismo, mas dentro de mim tem algo que grita, para que eu va em busca de novas possibilidades. Nunca pensei que um dia eu desenharia voce e o nosso amor assim desse jeito, como se o nosso amor fosse algo improprio, incerto, algo que nao pudesse ser vivido, mas ele é, porque o amor é lindo é muito bom, mas o amor é feito para quem nao tem medo do amor, quem nao tem medo de arriscar, não pra quem vive na incerteza e coloca a felicidade como segundo plano, reservando ela pra viver depois, felicidade é feita pra ser vivida hoje, agora, porque pode nao existir o depois e voce nunca vai saber como teria sido, viver tudo aquilo, porque ficou com medo de arriscar, porque ficou em cima do muro sem saber o que ia fazer, ou porque simplesmente nao me deu a mao para que saltassemos juntos no abismo do nosso sonho de amor.
Sabe eu amei demais, de uma forma totalmente inteira, me entreguei demais, confiei demais, sem nenhuma mascara, sem nenhum personagem, eu fui apenas eu e deixei que voce entrasse dentro do lugar mais sagrado, te mostrei quem eu era, sem nenhum pudor, ou medo. Errei??? Talvez!?! quem nessa vida nao erra, acho que errei em acreditar que dessa vez ia ser diferente que dessa vez a vida ia me colocar em uma situação a qual pelo menos uma vez eu nao tivesse que ser forte por ninguem, que eu poderia mostrar quem eu sou na verdade, aquela menina sonhadora, por vezes tola, que acredita no amor verdadeiro, e que acima de tudo acreditou que dessa vez tinha encontrado alguem que pudesse cuidar de mim, que pudesse dizer eu to aqui e tudo vai ficar bem, porque eu te protejo e cuido de voce. É, talvez nao fosse pra ser, mas eu queria tanto que fosse, eu queria tanto que voce fosse esse alguem, de verdade, quantas noites eu fui dormir pedindo pra Deus pra vc ser essa pessoa, quantas vezes eu agradeci a Deus por ter voce na minha vida, e de repente, voce nao é mais o mesmo, voce nem é mais a sombra do que voce era, e pensar que eu ja pude praticamente ler seus pensamentos, e hoje voce é alguem que eu nao sei mais o que quer, como quer, hoje eu nao me sinto mais na presença de um homem que sabe exatamente o quer, eu te vejo como um menino, fragil, adiando decisões, deixando a vida pra depois.. quando voce olha pra mim com aquela cara de eu te quero, mas eu nao posso, eu tenho vontade de cobrir de porrada, pra que voce aprenda a lutar por aquilo que voce realmente quer... mas o que voce quer??? voce nao me deixa saber, alias voce demonstra o que voce quer, mas nao faz aquilo o que quer, por medo, por fraqueza eu nao sei, e confesso que isso ta se tornando parte da minha loucura também.
Em uma historia a tres é inevitavel que um sempre sofra, mas é tão injusto que quem tenha que sofrer é quem ta mais longe, porque os olhos nao alcançam o sofrimento, e quando alcançam esse sofrimento se torna insuportavel... eu pago o preço pela vida ter me feito forte, eu sou sempre a sua escolha, eu sou sempre aquela a quem voce vai escolher caso voce tenha que magoar alguem, primeiro porque eu estou distante do seu alcance visual, entao qualquer dor que me dilacere, nao vai ser notada por voce, segundo porque a vida ja me saculejou demais, e eu sei perfeitamente que o sofrimento vem e ele passa, e depois com o tempo a gente se acostuma a apanhar e nao chorar tanto, nao expor tanto, nao se lamentar tanto, eu aprendi que tudo na vida é questão de habito e o ser humano se acostuma com tudo, e terceiro e nao mais importante eu sou a sua escolha, porque voce me conhece tão bem, ao ponto de saber que eu te amo tanto, que talvez eu nao consiga simplesmente virar as costas pra esse amor. Mas eu posso te surpreeender....

Rose Stabile
20/03/2012